terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Walker Evans - Metrô de NY - um fotógrafo invisível

Diferente do invasivo Garry Winogrand com sua lente grande angular e agitação que o aproximavam dos elementos a serem registrados, alguns fotógrafos urbanos se organizam justamente para  não serem percebidos.

No primeiro caso o fotógrafo pode voluntariamente, ou não, estimular reações de desconforto, surpresa ou irritabilidade, interferindo ou até fazendo parte da cena. Os anônimos procuram a  "alma" pela imagem capturando do objeto a distração ou a intenção e, quem sabe, até seus pensamentos. Ambas posturas caracterizam estilos, mas é a invisibilidade que melhor traduz  o sentido daquele momento.

Há fotógrafos que transitam entre os  dois modos mas alguns são evidentemente espectadores,  na acepção de um flâneur que não precisa ser percebido, caracterizam-se como  "aqueles que podem estar em todos os lugares e ao mesmo tempo em lugar algum".

Cega  - Paul Strand 1916
Existem muitas maneiras de ser discreto, e quando acreditamos ser novidade poder  fotografar enquanto fingimos falar ao celular, por exemplo, devíamos saber que algo semelhante, porém de forma mais criativa, complexa e elaborada, já era feito desde os primórdios da fotografia de rua. 

Paul Strand  foi pioneiro neste subterfúgio, e justificava que somente iludindo as pessoas é que poderia lhes ser fiel -"Eu sentia que um fotógrafo poderia capturar uma característica essencial se a pessoa não soubesse que estava sendo fotografada." - comentava. Sua mais famosa fotografia, "Cega" - por não poder sequer se ver fotografada -  é  representação máxima desta metáfora. Strand também usou uma engenhoca onde  uma lente falsa fingia ser a frente de uma grande câmera enquanto a verdadeira - que fazia o registro de fato - ficava ao lado e escondida sob uma manga do seu casaco.

Nesta linha um dos projetos mais conhecidos é o das  Fotografias do Metrô de NY por Walker Evans (1938 a 1941). A época já era possível carregar máquinas menores e eficientes para fotos de rua em dias iluminados, mas não para dentro de um  trem trepidante e com má iluminação, além disso era proibido fazer fotos dentro deles sem autorização prévia da polícia, mas  Evans, com uma Contax 35mm, fotografou por muito tempo passageiros sem que eles soubessem. A proposta era a de que pessoas apareceriam por acaso na frente de uma câmera fixa e impessoal sendo registradas sem qualquer intervenção humana. A máquina  (diafragma totalmente aberto numa velocidade de 1/50 segundos) com as partes cromadas pintadas de preto, ficava escondida sob o casaco de onde um cabo de disparador corria pela manga onde ele se firmava e, então, sem visualização, batia a fotografia. Era parte do projeto registrar as cegas e somente na revelação corrigir composição e exposição.
Nestas Ewans foi um fotógrafo invisível, mas não suas imagens, intrigantes até hoje.





Por Marcelo Freda Soares 




Nenhum comentário:

Postar um comentário